
A semana entre os dias 30 de junho e 5 de julho foi marcada por uma combinação de forças aparentemente contraditórias nos mercados globais: de um lado, a escalada das preocupações fiscais e comerciais nos Estados Unidos e, do outro, uma surpreendente resiliência nos ativos de risco, com bolsas em alta e valorização de commodities. Para o investidor, esse movimento trouxe oportunidades especialmente relevantes no Brasil, onde o câmbio se fortaleceu e a bolsa renovou recorde.
No cenário internacional, o foco esteve em Washington. O Congresso americano aprovou um robusto pacote de cortes de impostos, estimado em US$ 4,5 trilhões, proposta central da política econômica do presidente Donald Trump. O avanço do projeto, embora bem recebido por setores empresariais, reaqueceu os temores fiscais, com impacto direto na curva de juros. Os títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos encerraram a semana com alta na taxa, refletindo a reprecificação do risco fiscal e menor espaço para cortes de juros ao longo do ano.
Esses receios foram amplificados pela deterioração do ambiente comercial global. Com o fim oficial da trégua tarifária, os Estados Unidos anunciaram que aplicarão novas tarifas a partir de 1º de agosto, especialmente contra países que não firmarem acordos bilaterais até lá. Trump também sinalizou um adicional de 10% sobre produtos originários de países alinhados ao Brics, o que gerou desconforto diplomático e impacto nos mercados emergentes.
Ainda assim, as bolsas globais mostraram força. O bom desempenho refletiu, em parte, os dados do mercado de trabalho americano: o payroll de junho registrou criação de 147 mil vagas, acima das expectativas, com a taxa de desemprego recuando a 4,1%. A leitura foi de que a atividade econômica continua sólida, mesmo sob um ambiente de maior incerteza regulatória.
No Brasil, os ativos locais tiveram uma semana bastante positiva, impulsionados por uma conjunção de fatores internos e externos. O Ibovespa encerrou a sexta-feira em nova máxima histórica, aos 141.264 pontos, com alta de 3,2% na semana. O movimento foi sustentado tanto pela entrada de capital estrangeiro quanto pelo desempenho positivo das commodities e expectativas de avanços fiscais por parte do governo federal.
Um dos principais pontos de atenção do mercado foi o embate em torno do IOF. O governo federal recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar manter o decreto que eleva alíquotas do imposto, medida criticada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, como uma tentativa de judicializar questões orçamentárias. Ainda assim, a equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou cortes de R$ 15 bilhões em renúncias fiscais, buscando recompor receitas e melhorar a perspectiva de equilíbrio das contas públicas em 2025 e 2026.
No front da inflação, o IGP-DI de junho veio com deflação de 1,80%, contribuindo para reforçar o cenário de descompressão inflacionária. A curva de juros reagiu moderadamente, com queda nos vértices intermediários e longos. Esse movimento fortaleceu a atratividade da renda fixa, sobretudo nos papéis atrelados ao IPCA (NTN-B), que conjugam juros reais elevados com a tendência de inflação sob controle.
O real também se beneficiou desse ambiente. O dólar comercial encerrou a semana cotado a R$ 5,41, acumulando queda de 1,2% nos últimos cinco pregões. O fluxo externo e a valorização das commodities – especialmente minério de ferro e cobre – favoreceram a moeda brasileira. Além disso, o cenário global mais cauteloso com ativos de dívida americana gerou alívio sobre os emergentes menos alavancados, como o Brasil.
O destaque setorial ficou por conta das ações ligadas ao mercado doméstico, especialmente varejo, bancos e construção civil, favorecidas pela queda da percepção de risco fiscal e pela sinalização de novos estímulos habitacionais por parte do governo. Empresas exportadoras também se beneficiaram, com a leve recuperação dos preços do minério de ferro (US$ 96,2/t) e do petróleo Brent (US$ 71/barril).
Para os investidores, a semana confirmou a tendência de consolidação dos ativos de risco no Brasil, em meio a um câmbio mais favorável, inflação sob controle e sinais de responsabilidade fiscal, ainda que controversos politicamente. Com os juros locais mantidos em patamar elevado e o IPCA recuando gradualmente, a renda fixa segue atrativa — especialmente para estratégias de “carrego” com títulos indexados à inflação.
A semana que se inicia trará novos testes: o IPCA de junho, os dados de vendas no varejo e os desdobramentos do pacote habitacional serão decisivos para calibrar as apostas do mercado. Do exterior, seguem no radar os desdobramentos tarifários de Trump, que podem provocar reações bruscas caso entrem efetivamente em vigor em agosto. Até lá, o investidor deve combinar prudência com agilidade – atento às janelas de entrada, mas sem desconsiderar os riscos que seguem no horizonte.