Fase global de reprecificação de juros favorece ativos de risco

Deflação surpreende e IPCA-15 com alta menor que a esperada dominam as tendências de setembro

 Nossa análise sobre os recentes movimentos de mercado mostram que o mês de setembro foi marcado por uma transição importante no ambiente econômico global, com a consolidação de um cenário de desinflação e o início de um novo debate sobre o ritmo e a duração da política monetária restritiva. 

No Brasil, a combinação entre inflação em queda, atividade perdendo fôlego e expectativas mais ancoradas reforça o prelúdio de um novo ciclo. No Exterior, a moderação da economia norte-americana e a perspectiva de cortes graduais pelo Fed dominaram o foco dos investidores.

 Deflação surpreende

A inflação surpreendeu positivamente em agosto, registrando deflação de −0,11%, a primeira em 12 meses, levando o IPCA acumulado para 5,13%. O movimento foi puxado por reduções em energia elétrica (−4,2%), efeito do bônus de Itaipu, e recuos em alimentação e transportes, em meio à valorização de cerca de 13% do real no ano, que ajudou a conter a inflação importada. 

 IPCA-15 reforça moderação inflacionária

O IPCA-15 de setembro (+0,48%) reforçou o cenário de moderação inflacionária, com alta menor que a esperada e baixa disseminação de aumentos. Apesar do alívio, os núcleos de serviços continuam exigindo atenção, refletindo um mercado de trabalho aquecido e pressões pontuais em saúde e cuidados pessoais.

 Selic se mantém em 15%

No Boletim Focus, o mercado manteve o viés de revisão para baixo, com a 14ª redução consecutiva da projeção de IPCA, agora em 4,84% para 2025. Esse quadro consolida a percepção de que a política monetária começa a cumprir seu papel, ainda que o Copom tenha mantido a Selic em 15% a.a., reforçando o tom cauteloso. 

A ata mostrou um BC firme, mas já consciente da desaceleração da atividade, reconhecendo que a política restritiva deve persistir, porém com espaço para debate futuro sobre cortes graduais. Na visão dos nossos especialistas, um corte ainda em 2025 não estaria totalmente descartado.

 IBC-Br: retração pelo terceiro mês consecutivo 

Na atividade, o IBC-Br caiu 0,5% em julho, registrando o terceiro mês seguido de retração — movimento não observado desde 2019. A produção industrial também recuou (−0,2% m/m), e o PIB do 2º trimestre cresceu apenas 0,4%, sustentado pelo consumo das famílias, mas com queda de 2,2% nos investimentos. 

O mercado de trabalho mostra leve perda de tração: o desemprego recuou para 5,6%, mas o saldo do Caged de agosto (147 mil vagas) foi o pior para o mês desde 2020. O conjunto dos dados reforça a leitura de atividade mais fraca e inflação em convergência, abrindo caminho para um novo ciclo de política monetária em 2026.

 Indicadores norte-americanos apontam desinflação

Nos Estados Unidos, os indicadores confirmam a continuidade da desinflação, com o PPI em leve queda (−0,1%) e o CPI subindo 0,4%, ligeiramente acima do consenso, mas sem alterar o quadro de preços sob controle. O PCE, métrica preferida do Fed, avançou 0,23% no mês, mantendo a taxa anual em 2,9%. 

A revisão do PIB do 2º trimestre para 3,8% mostrou uma economia ainda robusta, impulsionada pelo consumo de serviços e investimentos em tecnologia, especialmente em inteligência artificial. Contudo, os dados mais recentes sugerem moderação do crescimento, com projeção de avanço em torno de 2,5% no 3º trimestre, indicando uma transição ordenada.

 Taxa de desemprego atinge 4,3% nos EUA

O mercado de trabalho também começa a perder força: as vagas abertas (JOLTS) recuaram e a taxa de desemprego subiu para 4,3%. Esse é o primeiro momento desde 2021 em que há mais desempregados do que vagas disponíveis. 

O enfraquecimento registrado legitima o início de um ciclo gradual de cortes de juros pelo Federal Reserve, que reduziu a taxa para o intervalo de 4,00%–4,25%. A autoridade monetária sinaliza que novos cortes devem ocorrer até o fim de 2025, sustentando uma postura de transição: combater riscos residuais de inflação sem comprometer a retomada do crescimento. 

 Ambiente favorável para ativos de risco

Em nossa visão, o movimento do Fed marca o início de uma nova fase global de reprecificação de juros, criando um ambiente mais favorável para ativos de risco e consolidando o cenário de travessia que marca este momento da economia mundial.

Mantivemos nossa estratégia de alocação inalterada, com posição sobrealocada em Bolsa Brasileira, Pré-fixados e Inflação (IPCA+), e posição abaixo do neutro em Pós-fixados (CDI). Entendemos que o atual estágio do ciclo econômico ainda favorece o risco, especialmente em ativos domésticos. Setembro foi um mês positivo para os ativos de risco, com destaque para o Ibovespa, que avançou 3,40%, atingindo 146.237 pontos e consolidando uma alta de 21,6% no acumulado do ano. O movimento foi sustentado por entradas líquidas de capital estrangeiro, melhora nas expectativas para a inflação e maior confiança na estabilidade da política monetária.

 Dólar tem terceiro mês consecutivo de queda

No câmbio, o dólar comercial recuou 1,77%, encerrando o mês cotado a R$ 5,32, em seu terceiro mês consecutivo de queda. A valorização do real reflete tanto o cenário externo mais favorável, com expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, quanto o forte diferencial de juros doméstico, que continua atraindo fluxos para o mercado brasileiro. 

Em conjunto, os resultados reforçam a resiliência dos ativos locais e a continuidade do apetite por risco, em um ambiente de dólar enfraquecido e bolsa em trajetória de valorização.

 

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