
A semana começa com os investidores atentos às decisões de política monetária que devem influenciar o comportamento dos mercados, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. No cenário doméstico, o Copom se reúne novamente após uma sequência de decisões que reforçaram o compromisso do Banco Central com o controle da inflação e a credibilidade da política monetária. Recentemente, a autoridade elevou a Selic para 15% ao ano e deixou claro que os juros devem permanecer elevados por um período prolongado, enquanto não houver avanços concretos na área fiscal. Consideramos que essa postura foi assertiva, contribuindo para a ancoragem das expectativas em meio a uma inflação ainda resistente e a uma atividade doméstica resiliente. O aumento residual de 0,25 ponto percentual na última reunião sinalizou ao mercado a diligência do Banco Central diante dos desafios atuais.
Inflação: IPCA-15 (Núcleos Mostram Composição Benigna)
No front inflacionário, o IPCA-15 de julho registrou alta de 0,33%, número muito próximo da nossa projeção e levemente acima da mediana das expectativas do mercado. Em 12 meses, o indicador acumula avanço de 5,3%, ritmo semelhante ao observado no mês anterior. Os núcleos de inflação mostraram nuances importantes: enquanto os serviços subjacentes vieram acima do esperado, puxados por alimentação fora do domicílio, os industriais subjacentes ficaram abaixo do previsto, influenciados principalmente pelo setor de vestuário. Mesmo com uma composição ligeiramente diferente do esperado, o cenário permanece benigno, com a média dos núcleos de inflação desacelerando para 4,2%, dentro da banda superior de tolerância da meta do Banco Central. Esse movimento indica uma perda gradual de pressão inflacionária, embora o processo de desinflação ainda seja lento.
Ambiente Macroeconômico e Fiscal: Sinais Mistos e Cautela
O ambiente macroeconômico permanece dividido entre a lenta convergência da inflação, sinalizada por revisões baixistas para o IPCA nas projeções do Boletim Focus, e uma atividade econômica que segue surpreendendo positivamente. Além disso, o quadro fiscal inspira cautela. A recente liberação de R$ 20,6 bilhões do orçamento, ainda que respaldada por uma arrecadação extra de IOF, foi interpretada como uma oportunidade perdida para reforçar o compromisso com a disciplina fiscal, ponto essencial para criar um ambiente de juros e inflação mais benignos no médio prazo.
Copom: Manutenção da Selic e Tom Conservador
A expectativa para a reunião do Copom desta quarta-feira (30/07) é de manutenção da Selic em 15%, marcando o fim do ciclo de aperto monetário. O comunicado deve manter um tom conservador, reforçando a permanência dos juros em patamar elevado até que haja avanços mais robustos na agenda fiscal.
Cenário Internacional: Fed, Mercado de Trabalho e Máximas nas Bolsas
No cenário internacional, as atenções se voltam ao Federal Reserve, que também realiza reunião nesta semana (30/07). Nossa avaliação é de que o banco central americano manterá os juros inalterados por ora, mas o mercado já precifica cortes ao longo do segundo semestre, diante de uma inflação em queda e sinais mistos de atividade.
Outro ponto de destaque é o mercado de trabalho americano, que ainda não mostra sinais claros de desaceleração. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego ficaram em 217 mil na última semana, patamar considerado baixo e próximo das mínimas das últimas semanas, reforçando a robustez do emprego nos Estados Unidos. Esse dado reforça a postura cautelosa do Fed, ao mesmo tempo em que adia expectativas para cortes mais expressivos de juros já neste ano.
Mercado Brasileiro: Ibovespa e Dólar Oscilam em Meio a Ruídos
No Brasil, o Ibovespa encerrou a semana praticamente estável, com leve alta de 0,11%. O noticiário sobre possíveis novas tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil impediu uma reação mais forte do índice, enquanto o desempenho negativo de grandes exportadoras e o volume reduzido de negócios ilustraram a cautela dos investidores. O dólar à vista, por sua vez, apresentou volatilidade e terminou a sexta-feira em alta diante do real, influenciado pelo aumento do risco comercial, mas acumulou queda de 0,46% na semana, refletindo o movimento global de fraqueza da moeda americana.
Investimentos: O que observar daqui para frente
O investidor deve acompanhar atentamente o comunicado do Copom nesta semana, já que a reunião marca o fim do ciclo de alta da Selic. Mais importante do que a manutenção do patamar atual de juros será entender quais os próximos passos da política monetária e como o Banco Central enxerga o cenário à frente. As decisões tomadas a partir daqui terão impacto direto sobre o desempenho dos diferentes ativos e, por isso, é fundamental revisar a composição da carteira à luz das novas sinalizações. Para quem considera estratégias dolarizadas, é importante ter ciência da pressão baixista que o dólar enfrenta globalmente, resultado das expectativas de corte de juros pelo Fed e do apetite maior por ativos de risco no exterior.
Agenda da semana
Esta semana reserva importantes divulgações, incluindo a decisão do Copom, dados de mercado de trabalho e produção industrial no Brasil, além de indicadores relevantes nos Estados Unidos e Europa, como o Payroll, FOMC, o PIB e a inflação.