
O cenário econômico da última semana reforça uma visão de desaceleração controlada, com destaque para os dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos. No Brasil, o IPCA de agosto registrou deflação de 0,11%, levemente acima do esperado (−0,15%), levando a inflação acumulada em 12 meses para 5,13%, em linha com as projeções de mercado. O resultado foi favorecido por quedas em habitação (−0,9%), com destaque para a redução de 4,2% na energia elétrica após o bônus de Itaipu, além de retração em alimentação no domicílio (−0,5%) e transportes (−0,3%). A valorização do real, próxima de 13% no ano, continua a atenuar a inflação importada.
Apesar do alívio no índice cheio, os núcleos seguem pressionados, com serviços avançando 0,5% no mês e 6,1% em termos anualizados, reflexo de um mercado de trabalho ainda aquecido e de custos persistentes em saúde e cuidados pessoais. No lado da atividade, as vendas do varejo recuaram 0,3% em julho na comparação com junho, marcando a quarta queda consecutiva, e registraram baixa de 2,5% no acumulado em 12 meses, sinalizando uma demanda interna mais fraca e um ritmo de crescimento moderado.
Nos Estados Unidos, os indicadores de inflação trouxeram sinais mistos. O índice de preços ao produtor (PPI) caiu 0,1% em agosto, com o núcleo também em retração, evidenciando que distribuidores e varejistas absorvem parte do impacto das tarifas e limitam o repasse de custos. Já o índice de preços ao consumidor (CPI) avançou 0,4% no mês, acima das expectativas, com o núcleo em +0,3%, impulsionado por altas em veículos, vestuário e passagens aéreas (+5,9%). A avaliação predominante é de que o efeito das tarifas é temporário, com o núcleo de bens devendo atingir um pico próximo de 2,75% ao ano antes de desacelerar, o que mantém aberta a possibilidade de que o Federal Reserve inicie cortes de juros nos próximos trimestres.
Nos mercados, o Ibovespa encerrou a semana em 142.271 pontos, com recuo de 0,26%, interrompendo uma sequência de cinco semanas de valorização. O dólar comercial caiu 0,70%, fechando a R$ 5,35, o menor patamar em 15 meses, refletindo a combinação de fluxo positivo para mercados emergentes e percepção de menor risco doméstico.
Para os próximos dias, a agenda econômica será determinante para calibrar as expectativas de política monetária. No Brasil, merecem destaque a divulgação do IBC-Br de julho, nesta segunda-feira (15), e a decisão do Copom, na quarta-feira (17), que deverá indicar os próximos passos da taxa Selic. Nos Estados Unidos, o foco recai sobre a reunião do FOMC, também na quarta-feira, que pode sinalizar o início de um ciclo de cortes de juros.
Em síntese, o ambiente global permanece desafiador, mas com sinais de que a inflação, especialmente no Brasil, se encontra em trajetória benigna, enquanto a economia norte-americana caminha para um ajuste gradual. Nesse contexto, os dados da semana reforçam a expectativa de início do corte de juros nos Estados Unidos, com uma redução de 0,25 ponto percentual já nesta semana, e, no Brasil, a expectativa para o Copom desta semana é de manutenção da Selic em 15%, mas os indicadores começam a fortalecer a perspectiva de antecipação do ciclo de afrouxamento monetário para o final de 2025.