
A semana foi marcada por avanços na desinflação doméstica, impasses fiscais em Brasília e crescente tensão no comércio internacional entre Estados Unidos e China.
Juntos, esses fatores moldaram um ambiente de maior cautela nos mercados.
Brasil: inflação em queda e incerteza fiscal
O IPCA avançou 0,48% em setembro, abaixo da mediana das projeções (+0,52%).
A alta ficou concentrada em Habitação (+2,9%), enquanto Alimentação (-0,26%) e Artigos de residência (-0,30%) ajudaram a conter o índice. Em 12 meses, a inflação acumulada é de 5,17%. Os núcleos permaneceram estáveis em 0,18%, e a difusão em 52,5% reforça um movimento de desinflação mais disseminado. O grupo de serviços também desacelerou, de 0,50% para 0,35%.
Esse conjunto de dados aponta para um quadro mais benigno, que pode permitir ao Banco Central suavizar o tom restritivo da política monetária, ainda que riscos fiscais e no setor elétrico mantenham o alerta aceso.
No campo político, a Medida Provisória 1.303/2025, que propunha uma reforma na tributação dos investimentos, foi rejeitada pela Câmara dos Deputados por 251 votos a 193. O texto previa unificação do IR em 17,5% (depois 18%), além da tributação de 5% sobre produtos antes isentos, como LCI, LCA, CRI e CRA, incluindo ainda FIIs, Fiagros e criptoativos.
Com a rejeição, as regras atuais foram mantidas, preservando a tabela regressiva da renda fixa (22,5% a 15%) e as isenções para instrumentos incentivados. Agora, o governo avalia novas medidas de compensação fiscal para cobrir a perda estimada de arrecadação de cerca de R$ 17 bilhões em 2026.
Cenário internacional: tensões EUA–China e impacto nos mercados
As relações comerciais entre Estados Unidos e China voltaram ao centro das atenções após Washington anunciar a intenção de aplicar novas tarifas sobre produtos chineses, em resposta aos controles de exportação de terras raras impostos por Pequim. A medida intensifica a disputa por protagonismo tecnológico e reforça o risco de fragmentação das cadeias produtivas globais.
Nos Estados Unidos, os indicadores de inflação seguem relativamente controlados, permitindo ao Federal Reserve sinalizar cortes graduais de juros nos próximos trimestres. Já na China, as autoridades buscam conter o impacto das tarifas por meio de estímulos direcionados a crédito e infraestrutura, tentando preservar a meta de crescimento anual de 4,7%.
O aumento da incerteza global levou investidores a buscar proteção em ativos de menor risco, fortalecendo o dólar e pressionando moedas emergentes — movimento que também atingiu o real.
Mercados: ajuste nos preços de ativos
O Ibovespa encerrou a semana em queda de 2,44%, aos 140.680 pontos, com volume financeiro de R$ 22,4 bilhões. A correção refletiu a combinação entre o aumento das preocupações fiscais internas e a piora no ambiente externo. O dólar comercial subiu 2,39%, cotado a R$ 5,50, acompanhando o movimento global de aversão ao risco.
Agenda da semana: foco em atividade
Em termos de agenda econômica, a semana será marcada pela divulgação de dados relevantes de atividade, que devem ajudar a calibrar as expectativas para o PIB do terceiro trimestre. O destaque fica por conta do IBC-Br, a ser divulgado na quinta-feira, considerado uma prévia do desempenho da economia brasileira.
Na quarta, saem também os números de vendas do varejo de agosto, que devem confirmar o ritmo mais moderado do consumo das famílias diante dos juros elevados.
Em conjunto, esses indicadores poderão reforçar a leitura de desaceleração controlada, sustentando o cenário de inflação em queda e a perspectiva de um ambiente mais favorável para os próximos meses.